Sou MaDame Lumière. Cinema é o meu Luxo.

Por  Cristiane Costa ,  Editora e crítica de Cinema, e specialista em Comunicação   Assim como não podemos viver sem blockbusters...

O futuro perfeito




Por Cristiane Costa,  Editora e crítica de Cinema, especialista em Comunicação 


Assim como não podemos viver sem blockbusters, também não podemos viver sem os filmes independentes. Equilibrar as distintas naturezas das produções cinematográficas na experiência da Cinefilia e saber apreciá-las é uma das mais reveladoras jornadas que o Cinema oferece. A agradável descoberta é perceber que  haverá sempre um roteiro, uma direção, uma montagem que mostrará uma outra forma de comunicar uma ideia, propor uma reflexão. O vigor do Cinema é constantemente reciclado através das sutilezas do processo criativo. Nesta caixinha de surpresas  surge o vencedor do prêmio de melhor filme no Festival de Locarno, "O futuro perfeito", uma produção da Argentina com a direção da alemã Nele Wohlatz.






Com uma duração curta (65min), um elenco internacional (China, India) e  falado em espanhol e mandarim, o longa centraliza a cidade de Buenos Aires e a onda crescente de imigração. É para a capital portenha que a jovem chinesa Xiaobin (Xiaobin Zhang) é levada a viver com sua família. Cercada pelas responsabilidades e tradições dos pais, donos de uma lavanderia, ela pouco sabe do seu destino, mas toma ações para se adaptar à nova realidade e ter autonomia. Sem saber falar o idioma local e diante de um mundo desconhecido, ela se matricula em um curso de espanhol, trabalha em um supermercado, começa a juntar economias e a namorar o indiano Vijay (Saroj Malik).








É interessante notar que, muito mais do que um filme realizado sob a perspectiva feminina com uma personagem de 17 anos em um rito de amadurecimento e mudanças, o longa é sobre empoderamento feminino acrescido de uma dinâmica linguística bem peculiar e inteligente na construção da narrativa. Xiaobin está aprendendo o castelhano, está construindo o seu vocabulário e repertório, sua forma de se comunicar, refletir e argumentar, e enfrentando os desafios da linguagem e suas relações com a cidade, as pessoas, o trabalho, a cultura, o futuro. Assim, esse roteiro curto se torna imenso com diferentes possibilidades de interação linguagem, identidade e sociedade, principalmente em um mundo cada vez mais global que tem discutido  a questão da imigração e a representação e representatividade étnica e de gênero. 







De uma forma crível, a história apresenta algumas cenas chave que demonstram a evolução de Xiaobin: seu posicionamento com relação ao futuro e seus desejos, como interage no relacionamento amoroso e com os colegas de curso, como exerce seu potencial imaginativo a medida que domina cada vez mais o idioma. A atuação naturalista da atriz, um pouco introspectiva e amadora, também corrobora a fase de adaptação da jovem e ajuda a ver seu esforço e evolução do início ao desfecho do filme. Xiaobin virou atriz por acidente e topou realizar este longa. Como ela própria disse: “Nas filmagens, eu só tinha que viver de novo aquilo que eu tinha vivido de verdade”


A relação entre sua capacidade criativa e argumentativa e um dos tempos verbais que aprendeu, o condicional, é um dos momentos mais brilhantes. Com isso, ela começa a imaginar o seu futuro e as inúmeras possibilidades de viver. É exatamente essa distinta forma de desenvolver uma ideia no espaço narrativo de um filme que faz com que seja essencial abrir as caixinhas de surpresa do Cinema Independente e olhar novas perspectivas de produção audiovisual.







Ficha técnica do filme Imdb O futuro perfeito

Fotos: uma cortesia Zeta filmes
Citação atriz Xiaobin Zhang - site da Mostra



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