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Por Cristiane Costa  Mistress America é uma das grandes estreias do ano nos Cinemas Brasileiros e é resultado de uma coprodução...

Mistress America (2015), de Noah Baumbach





Por Cristiane Costa 



Mistress America é uma das grandes estreias do ano nos Cinemas Brasileiros e é resultado de uma coprodução Americana e Brasileira realizada entre Noah Baumbach e Greta Gerwig (de "Frances Ha") e a RT Features dirigida por Rodrigo Teixeira. Exibido durante a Mostra internacional de Cinema de São Paulo e lançado em 19 de Novembro em 14 cidades do país, o longa é um projeto cinematográfico bastante Brasileiro. Novamente a RT Features, que trabalhou em Love 3 D de Gaspar Nóe, revigora as parcerias internacionais, o que é bem positivo para a visibilidade dos negócios audiovisuais do país no cenário mundial. Com première em Sundance, Meca do Cinema Indie, a recepção positiva ao longa não poderia ser diferente: da aflorada e verborrágica atuação de Gerwig ao estilo de Noah baumbach de trazer personagens que, em algum ponto de colisão entre seu ego e a realidade contemporânea,  são espelhos de nossa humanidade, Mistress America tem brilho próprio e é imperdível.






Com roteiro de Noah Baumbach e Greta Gerwig, também parceiros na vida afetiva, o longa conta o começo da amizade entre Brooke (Gerwig) e Tracy  (Lola Kirke), duas jovens que estão às vésperas de ser irmãs. O pai de Brooke e a mãe de Tracy estão juntos e pretendem unir as alianças em breve. Com perfis e idades bem diferentes, ambas encontram companhia e confiança uma na outra. Tracy é uma introvertida e solitária garota e não está adaptada a uma cidade cosmopolita como Nova York. Vê na futura irmã uma amiga com mente visionária e  criativa e estilo de vida sedutor, além de uma inspiração feminina para sua escrita. Brooke mora sozinha e, entre inovadoras ideias e um senso de viver intensa e vigorosamente, ela compartilha parte de seus projetos e criatividade com Tracy. Como nem tudo é perfeito nas relações interpessoais,  há momentos de crise que, em uma comédia dramática, tornam-se catárticos e reconfortantes. Ninguém está sozinho nas neuras, equívocos e fracassos e isso é realmente um alívio quando se trata do Cinema de Baumbach.







Mistress America tem uma energia que irradia na telona. É cool, despojado, espontâneo. Estas virtudes fazem a diferença na experiência com uma narrativa bem simples mas que possibilita desdobramentos reflexivos profundos. E de onde vem tanto vigor? Do talento de Gerwig, que se destaca como um excelente atriz com habilidades de comédia screwball. Pensamentos criativos e borbulhantes, fala rápida, ágil e precisa presença física em cena e variados gestos articulados com a ação e as emoções marcam sua personagem. Gerwig é a alma da história e dificilmente outra atriz conseguiria fazer este papel com tanta naturalidade.  






Mas, Gerwig não brilha sozinha. A relação entre Tracy e Brooke é marcada por uma busca de identidade. Lola Kirke complementa com luz própria e coesão narrativa o que vem a ser o ótimo clímax da história e onde tudo faz sentido. É agradável ver como elas se aproximam em um misto de descoberta familiar, companheirismo, confiança e bom humor.  A delícia da história é exatamente essa descoberta contínua onde as fichas vão caindo, onde uma é necessária a outra para que a história transmita a mensagem que importa.  Tracy é jovem, inexperiente e insegura, porém tem um grande potencial como escritora. Brooke é aquela mulher com espírito jovem que está na fase de maturidade dos 30, 35 anos e que, segundo as cobranças sociais, já deveria estar com a vida bem resolvida. Neste aspecto, o mais incrível no roteiro é perceber que, não importa a idade, sempre estamos formando nossa identidade, construindo os nossos projetos e reelaborando novas estratégias. Às vezes enganamos a nós mesmos, outras vezes chegamos a um ponto de revelação de nossa essência e do que efetivamente queremos ou não na vida. Este é o barato de viver!






Muitas mulheres se identificarão com Brooke. É uma personagem incrível e uma mulher totalmente contemporânea.  Também, ela é uma personagem bem universal, assim o público em geral potencialmente  criará um elo emocional com ela. É o tipo de heroína imperfeita, agitada, confusa, com várias ideias e que falhou em várias tentativas, entretanto, não perdeu a ternura, a força de vontade e nem o desejo de que as coisas sejam bem concretizadas. Encarna graciosamente o efeito sabotagem que é intrínseco ao ser humano e que surge de uma hora para outra. Por trás de sua vida cool em Nova York, há aparências, solidão e incompletude.  As grandes cidades costumam ser assim. Abrigam diversas pessoas estilosas, inteligentes e donas de si que, na essência, guardam sentimentos de fracasso e insatisfação. Entretanto, pouco demonstram. Preferem jogar as frustrações para um canto escuro do coração, trancá-las e jogar a chave fora. Vivem crises de negação e são tão versáteis que conseguem sorrir com facilidade.  Brooke é dócil e vivaz mas ela se encaixa perfeitamente bem no caos moderno. Pessoas que não sabem bem o que são e nunca é tarde para descobrir.


Assim, este lançamento é moderníssimo e supera o último filme de Baumbach, "Enquanto somos jovens" cujo roteiro teve altos e baixos. Mistress America é uma comédia refrescante, leve, que embala um sentimento bom quando o sorriso de Gerwig ilumina a tela. Ela é bonita, tem carisma, bom humor e estilo próprio. Eleva o astral do ambiente às alturas.  Isso é um diferencial de alto nível quando há sinergia entre o argumento, a direção e a protagonista. Brooke é aquela heroína moderna em um mundo caótico, principalmente na América, na qual as pessoas já nascem para ser competitivas, bem sucedidas e endinheiradas, mas que, após anos de tentativas frustradas, elas descobrem que precisam desacelerar e olhar para dentro de si, mesmo que sejam imperfeitas demais, existe uma perfeição em ser imperfeito.




Distribuição: Vitrine Filmes


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