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Uma das melhores e mais agradáveis surpresas da Mostra é o segundo longa do cineasta Alemão Andreas Arnstedt, O Cuco e o Burro, ...

Mostra 2014 : O Cuco e o Burro ( Der Kuckuck und der Esel ) - 2014









Uma das melhores e mais agradáveis surpresas da Mostra é o segundo longa do cineasta Alemão Andreas Arnstedt, O Cuco e o Burro, que traz uma metalinguagem do Cinema. Conta a história de um roteirista judeu que sequestra o produtor alemão de uma emissora. Após anos de tentativas frustrantes para ter seu roteiro "O pomar das laranjas" transformado em filmes, o roteirista  (Thilo Prothmann), seu pai (Joost Siedhoff) e sua irmã mantém o produtor (Jan Henrik Sthalberg) sob cárcere em um porão. Com um roteiro que transita entre o drama e a comédia de humor negro, o longa materializa uma situação limite que é desencadeada para mostrar as dificuldades de fazer Cinema na Alemanha e o conflito entre produtores e realizadores. Essa história fictícia pode ser aplicada em qualquer cenário do audiovisual e as constantes frustrações de cineastas e roteiristas para viabilizar seus trabalhos ao público.


A ideia é bem original, inusitada, contemporânea e divertida. Começando pelo título do filme que é parte da tradição da cultura Alemã. O Cuco e o Burro é uma canção para crianças e na literatura é baseada em uma briga entre eles sobre quem melhor cantava. Ao cada um cantar à sua maneira, não se entendiam e agiam com ironia. No filme, isso é aplicado na relação comunicativa entre roteirista e produtor. Ambos os atores começam a realizar a revisão do roteiro nos quais há momentos  nos quais um age como o Cuco e outro como o Burro inclusive citando um dos trechos da canção: Das klang so schön und lieblich (isso soa tão bonito e apaixonante) em referência à história de amor do roteiro. Nesses diálogos não dá pra saber até que ponto o produtor está sendo honesto ou está somente interessado na sua liberdade.


Muitos profissionais se frustram em não ter seus roteiros lidos adequadamente e com os sérios transtornos para financiar um filme. Essas questões transformam o longa em uma excelente experiência cinematográfica ao perceber como o cineasta construiu o meta-filme em dramédia. Nada passa desapercebido nessa narrativa, o que é um grande acerto. O argumento é  bem desenvolvido com diálogos nos quais é demonstrada a falta de comunicação e de confiança entre produtor e roteirista, a dependência  de variadas aprovações para realizar um produto audiovisual, a necessidade de um roteiro agradar a audiência e se converter em lucro para a emissora e a crítica ao Cinema frio e desprovido de emoções genuínas. Também não fica de fora o cenário atual da Alemanha no qual a produção do Cinema depende de um vínculo próximo com a televisão estatal, o que acaba engessando o processo.  Com a radical atitude de optar por um sequestro e uma família excêntrica disposta a qualquer coisa para ver o filme realizado, o longa tem cenas hilárias e também tristes.


Com destaque para o elenco, principalmente  Jan Henrik Sthalberg que demonstra controle e evolução emocional no seu personagem. Mesmo na posição de refém, seu personagem foi criado para manter um clima harmônico com os sequestradores e participar de cenas dramáticas, o que é muito positivo (e divertido) para o desenrolar da história. Provavelmente muitos frustrados com o financiamento de seus filmes teriam vontade de ser o realizador desse longa e ver produtores sofrer por algumas horas na ficção.





Ficha técnica do filme ImDB O Cuco e o Burro

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