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MaDame Noir: O melhor do Film Noir por MaDame Lumière À Beira do Abismo ( The Big Sleep ) é um dos melhores clássicos do e...

MaDame Noir: À beira do abismo (The Big Sleep ) - 1946

MaDame Noir:
O melhor do Film Noir
por MaDame Lumière






À Beira do Abismo (The Big Sleep) é um dos melhores clássicos do emblemático Howard Hawks, diretor da Era de Ouro Hollywoodiana que é reconhecido como um dos mais versáteis cineastas nas produções dos grandes estúdios americanos com realizações em variados gêneros, entre os quais se destacam comédias (Levada da Breca, Jejum de amor, Bola de Fogo), Aventuras (Rio Vermelho e Uma aventura em Martinica), western (Rio Lobo, El Eldorado) e suspenses criminais (Scarface  - a vergonha de uma nação e À beira do abismo). Sua versatilidade deixou um legado inestimável à Sétima Arte com sua sólida habilidade como contador de histórias, direção precisa e muito enfocada puramente no entretenimento das produções Americanas da época e um excelente diretor de atores.


Adaptado do homônimo romance criminal de Raymond Chandler, um autor experiente em histórias detetivescas e que contribuiu com o roteiro de Pacto de Sangue (1944), um outro clássico essencial na filmografia Noir dirigido por Billy Wilder, À Beira do Abismo tem roteiro de William Faulkner, um dos melhores roteiristas da Era de Ouro que havia trabalhado previamente com Hawks em Uma Aventura em Martinica (1944). Para o longa, o cineasta escalou novamente o icônico casal Humphrey Bogart e Lauren Bacall que também já tinha atuado juntos em uma aventura em Martinica, desta forma, fechando mais um trabalho em equipe, uma das premissas profissionais contínuas nas obras do diretor.


O filme conta a história de um detetive particular Philip Marlowe (Bogart) contratado por uma família rica para investigar uma teia de problemas que envolve desaparecimento, morte, traição e chantagem. As duas filhas dessa família são belas e misteriosas mulheres,  Vivian Rutledge (Lauren Bacall) é mais direta e racional e Carmen Sternwood (Martha Vickers) é mimada e problemática. A cada peça movida na investigação, Marlowe entra mais ainda em um jogo de traição, mentiras, assassinatos e paixão e fica mais atraído pela sedutora Rutledge, uma mulher de personalidade elegante e cínica. O público é desafiado a acompanhar Marlowe  em uma história confusa e de difícil entendimento que graças ao habilidoso olhar cinematográfico Hawksiano torna-se  uma narrativa mais digerível.






Primeiramente, é necessário observar que o longa é um filme noir bem diferenciado em comparação a maioria da época. Essa virtude é resultado do trabalho de direção de Hawks e dos habilidosos e rápidos diálogos de Fulkner. Na contramão do formato clássico de um noir que usa narrativa em flashback, forte uso de iluminação expressionista, histórias mais rasas, heróis masculinos desesperados e decadentes e mulheres dissimuladas, o longa não apresenta essas fortes características.  Pelo contrário, ele é  construído em uma narrativa linear bastante complexa em um suspense que confunde o público, atiça a curiosidade pelos desdobramentos e exige maior atenção no ponto de vista do detetive. Marlowe é muito seguro do seu papel  como investigador e determinado a solucionar o caso. Ele está muito alinhado aos personagens Hawksianos que tinham um forte senso de responsabilidade à serviço. Como Hawks sabia muito bem como dirigir atores, o talento, tipo durão e autoconfiança de Bogart assim como o charme e beleza de Bacall colaboraram significativamente com a atratividade por um noir mais refinado. Com diálogos ágeis e cenas irresistíveis de flerte que incendeiam a tela com a química entre Bogart e Bacall, o expectador tem diante dos olhos um noir imperdível.


Se por um lado, a  direção de Hawks para o suspense é muito acertada por sua sofisticação e experiente controle narrativo na mise en scene, por outro lado há um plot dificílimo que requer uma revisitação do filme, e mesmo assim, ele dá a entender que o que menos importa aqui é saber quem são os culpados e quem é mais cínico na história. Neste sentido, À beira do abismo deve ser observado a partir da linguagem cinematográfica de Hawks e como ele combina planos com cortes bem articulados para criar a atmosfera noir no tempo e no espaço. Ele é tão hábil que ele consegue colocar sua direção acima da dificuldade de entendimento da história. Pelo plot ser desafiador, o expectador tende a buscar bem mais outros elementos para compreender o filme como a perspectiva do detetive, a relação entre os personagens periféricos, como se comunicam e como agem, onde estão etc. Essa observação de comportamentos duvidosos em uma estética que valoriza o lado obscuro das pessoas em um trama de suspense e mistério é uma das melhores virtudes do longa. 


No geral, muitos elementos noir estão aqui, da fotografia com sombras e baixa iluminação a mulheres atraentes e suspeitas mas Hawks realiza um filme noir sem se apegar a escolhas recorrentes no gênero. Certamente, o roteiro também o ajudou a elevar o nível do noir e o desafiou na decupagem . Assim, À beira do abismo é um filme essencial para conhecer a versatilidade de Hawks e como um cineasta excepcional consegue neutralizar a complexidade de uma história confusa e entregar uma direção primorosa.






Ficha técnica do filme ImDB À beira do abismo

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